Reportagem: Caroline Rossetto
Em comemoração ao mês da mulher, o Teatro Flávio Império inaugurou a exposição “Nós Voz Por Elas”, unindo os trabalhos do fotógrafo Douglas de Campos e da professora, fotógrafa, poeta e artista visual maranhense Emilly Castro. A exposição, pequena e que reúne cerca de 12 fotos, todas em preto e branco, junto com poesias, expõe e propõe o diálogo entre imagem e palavra, abordando a vida cotidiana da Zona Leste, antes da pandemia. A mostra, que está localizada na extrema Zona Leste, em uma região que tem poucos equipamentos culturais, o Teatro Flávio Império é uma referência no bairro e que após a sua reinauguração em 2015, mantém uma agenda cultural bastante variada e ativa. Em tempos pandêmicos, a artista contou como foi o processo da construção das obras e a concepção da exposição: “Durante a pandemia foi bem difícil para mim, assim como milhares de brasileiros, eu também fui afetada e perdi o emprego do qual eu estava há um tempo e fiquei sem trabalho a pandemia inteira. O que me salvou, não apenas no sentido financeiro, no sentido psicológico, foi a fotografia. Durante os piores piores momentos da pandemia, eu procurava sair, andar pelo meu bairro e ver cenas do cotidiano. Sou fotógrafa do cotidiano, ia registrando a rotina das pessoas, na periferia de São Paulo, especialmente na Zona Leste. Então, durante a pandemia, eu costumava andar muito pelo bairro e por bairros próximos, além de fazer exercícios de caminhada, respirar e refletir. Aproveitava para tirar fotos, principalmente em dias bonitos. Então, fotografei muito o Cangaíba, Jardim Penha, São Miguel, São Mateus, Ermelino Matarazzo, Parque do Tietê, enfim, vários bairros. Então, foi uma maneira de me reaproximar e revisitar a Zona Leste”, conclui. Emilly afirma que a Zona Leste, que é a mais populosa da cidade, ainda é uma área dormitório e que existe coisas belas na periferia e que é preciso ressignificar o olhar: “A Zona Leste é a zona mais populosa da cidade de São Paulo e assim como outros bairros periféricos, ainda são bairros dormitórios, onde as pessoas passam a maior parte do seu dia longe, no trabalho, e só voltam a noite, para dormir, em um curto espaço de tempo. Então, a pandemia nos obrigou a ficar em casa e a nos reinventar, em todos os sentidos, não só financeiros, mas também em questão de lazer. Então, nessas caminhadas, percebi que as pessoas continuam usando muito as ruas para brincarem. No meu bairro, por exemplo, é incrível a quantidade de pipas que existem e ainda é uma prática muito forte, tanto os mais novos quanto os mais velhos, as crianças ainda brincam na rua. Apesar de todo o cenário e diante de toda a dificuldade que a periferia tem, existe muita beleza e poesia nesse cotidiano”, completa.
Emilly conta que conheceu o fotógrafo Douglas de Campos há algum tempo e ele propôs a que ela expusesse as fotos selecionadas por ela no Teatro, mesmo em um espaço pequeno, juntos com os fragmentos de poesia que ela escreveu, encontrando uma narrativa que pudesse traduzir e deixar subentendido a ideia de voz, que as pessoas da periferias também tem voz. O gestor do Teatro Flávio Império, Paulo relatou a importância de um teatro como esse na Zona Leste: “Colocar um equipamento cultural na Região Leste, como o Cangaíba, é o papel fundamental do Estado.O Estado precisa cumprir esse dever de fomentar e criar equipamentos culturais e que atendimento do Estado não se paute só na saúde, moradia e educação que são extremamente importantes, claro, mas que nessas cestas básicas, a cultura também faça parte e ter um equipamento, com as qualidades que o Flávio Império tem, é atender um pouco essa demanda e fazendo um recorte da Zona Leste, o Cangaíba está bem assistido, mas vemos em bairros vizinhos como Ermelino Matarazzo e Vila Matilde que também precisaria de lugares assim, mas a gente busca cumprir essa função” Paulo nos conta sobre a exposição que tem feito um grande sucesso: “Ela passou por uma curadoria nossa, junto com os jovens que fazem parte da Gestão, para ter espaço em nossa programação e atender a demanda local e também as temáticas. Essa exposição atende os artistas da região e é uma exposição voltada ao mês dedicada às mulheres” 02:19 a 02:53 Para quem quiser conhecer, a exposição está localizada no teatro Flávio Império Rua Professor Alves Pedroso, 600 - Cangaíba Vai até 19/04 Horários: 10h00 às 19h00 GRATUITO
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